Wednesday, January 10, 2007

Byron Bay




HAPPY BAY!

A primeira vez que ouvi falar de Byron Bay foi num dos vários sites de músicos, os quais consulto quando quero saber onde tocam em tour. Curiosamente muitos deles pareciam tocar num festival - East Coast Blues & Roots Festival - que tomava lugar num sítio chamado Byron Bay, algures na Australia, por alturas da Páscoa. Desde então que imaginava que ia adorar estar num sítio longínquo, a ouvir as minhas bandas preferidas, rodeado de gente exótica e colorida, onde se vive aquilo e só aquilo naquele momento. Sem nunca pensar como ou quando, imaginava que gostava de ir à Australia um dia mas a distância é um pouco desencorajadora, tornando qualquer visita com duração inferior a mês um pouco em vão. A Australia é uma ilha: até aí tudo bem. Mas uma ilha do tamanho do continente Europeu é um bocado difícil de conhecer em pouco tempo. Mas um dia tinha que conhecer essa terra prometida, onde tocavam alguns dos nomes mais influentes da música blues e roots de hoje. Byron Bay, cinco dias de música com bandas de todo o mundo, abrangendo géneros de todo o tipo. Para vos dar uma ideia já por lá passaram Taj Mahal, Jeff Lang, Gil Scott Heron and Oblivion Express, Ben Harper and the Innocent Criminals, Jack Johnson, The Wailers, ZZ Top, Burning Spear, Bella Fleck and the Flecktones, Sly & Robbie, Violent Femmes, The Blind Boys Of Alabama e podia estar aqui a mencionar mais cento e tal bandas que nem sequer conheço. E porquê em Byron Bay…?

Foi então que se proporcionou ir estudar na Australia durante 1 ano. As hipóteses de poder conhecer “bem” a terra vermelha começavam a subir. Comecei então a tentar saber mais sobre esse continente-ilha de 7,7 milhões de km2 onde toda a gente era relaxada, onde se bebia muita cerveja e, se por acaso a minha universidade era perto de Bells Beach. Não era. Mas era muito perto de Byron Bay. Eu ia fazer uma pós graduação na Gold Coast durante um ano. Foi então que começaram a chover as bocas típicas acerca da área de estudo: “Pós-graduação em surf, só se for!”. Não ligava. Mas houve um comentário que não me saíu da cabeça. Foi do meu mestre de yoga quando me disse: “Vais para a Gold!? Então vais estar ao lado de Byron Bay! Tens que lá ir! É só Yoga, música, surf!”. O brilho nos olhos com que me disse isto convencia qualquer um. Convenceu-me a mim, pelo menos.

A universidade era em Surfers Paradise e eu e o meu amigo e colega pós-graduante Spike ficámos a viver em Coolangatta, palco de um famoso fenómeno man made conhecido por “Superbank”. Coollangatta é a meca daqueles que querem surfar uma das direitas mais compridas do mundo. Começa em Snapper Rocks e, quando as condições estão perfeitas, a onda cola até Kirra Beach, 3 km depois. Foi ainda por estas praias que se fez história no surf. Michael Peterson, considerado por muitos o embaixador do surf moderno, experimentava as suas próprias pranchas – as primeiras short-boards a aparecerem – nas ondas de Kirra Beach, quando ainda não havia vestígios de “superbank”. O crowd também devia ser menor na década de 70. Hoje em dia “condições perfeitas” implicam 300 pessoas a tentar apanhar a tal onda interminável. Resolvíamos então, nos dias em que não tinhamos que estudar (relembro que a razão da nossa estadia na Austrália é fazer uma pós graduação), conhecer outros sítios ali ao pé e não surfar Snapper Rocks. Organizámos então uma turminha que contava com 10 pessoas: 9 tripulantes e um capitão – Eddie Biff. Ora bem: se bem me lembro o Eddie nasceu em França, viveu na Austrália, Portugal e algures na America do Sul. Colômbia, se nao estou em erro. Hoje em dia fala tudo isto, desenvolvendo um dialecto proprio, o qual apelidámos de “Biff’s language”. O Eddie comanda “o barco” sempre que este sai de Coolangatta. Dessa vez o destino era Byron Bay.

Localizada a 173 km a sul de Brisbane, B.B. é o ícone australiano da costa leste. É rodeada por paisagens costeiras de suster a respiração, bem como parques nacionais e florestas tropicais lindíssimas. O Cabo de Byron tem ainda a particularidade de ser ponta mais a leste de todo o continente australiano. Esta península foi descoberta pelo Capitão James Cook em 1770 que a assim baptizou em homenagem ao Vice Almirante que navegava consigo, John Byron. O povo aborígene ja tinha vivido nesta área milhares de anos antes mas deixou muito pouca evidencia da sua permanência. No entanto, originalmente a vila era conhecida por Cavvanbah, o nome aborígene que significa “local de encontro”. Porque seria…?

The Great Northern Hotel é um dos imensos backpacker’s hotels de B.B.. Foi onde ficámos e nada de negativo tenho a apontar. Fica por cima de um pub/discoteca com o mesmo nome situado na Jonson Street, uma das ruas principais da vila. Por lá podem encontrar-se viajantes de toda a parte, em grupo ou sozinhos, com aquela vontade de comunicar típica de quem chegou a um sitio onde não conhece ninguém. Nessa vez também lá parava um grupo de jovens australianas, festejando a despedida de solteira de uma das amigas. A vontade de comunicar propagava-se, assim, por todo o Great Northern.

A noite

Em Byron Bay à noite há variadíssimas coisas para fazer. Ao longo da Jonson Street músicos de rua alegram o mood desta terra com covers de Dave Mathews, Jimi Hendrix entre outros. Jantar, esse tanto pode ser no Bay Kebab se optarem por rolos de falafel, como no Olivo, onde o menu tem influencias francesas, italianas e asiáticas, e há a opção de levar as bebidas desejadas para acompanhar a refeição, uma vez que o restaurante é BYO . Tem um ambiente acolhedor e moderno e fica só a 30 metros do Great Northern. Estes são dois meros exemplos da enorme variedade de restaurantes existentes em B.B.. Desde thais, a italianos, a japoneses, a gregos qualquer um proporciona bons pratos e bons momentos. Depois de jantar – convém jantar bem cedo, tipo 19h, pois tudo na Austrália se passa a horas britânicas – continua o movimento. Perto da estação de combóio há o Railway Friendly Bar, um pub/restaurante onde essencialmente se bebe cerveja. É barulhento como qualquer pub australiano mas mesmo assim se ouve boa música. Lembro-me de lá ver Dennis Wilson Band a fazer covers de Jimi Hendrix como se a sua vida dependesse disso. A partir daí é utilizar esse conceito de marketing conhecido por “word-of-mouth” até encontrar a próxima paragem. Pode ser o Cocomangos ou Cheeky Monkeys. Cheio de backpackers de toda a parte, com uma vontade enorme de comunicação, lá…se comunica.


De dia

De manhã, em Byron Bay a preocupação é: onde é que há surf? Pode ser Tallow’s Beach, uma praia com um areal que parece não acabar. Começa desde o Cabo de Byron, onde fica o farol, até Broken Head, a sul. Junto a Cosy Corner, o cantinho logo a seguir ao farol, o pico é de esquerdas, mas ao longo da praia há picos com direitas e esquerdas. Fica perfeito com swell de leste e vento de noroeste, que entra off-shore. Mas se a escolha recái sobre direitas o melhor é ir a The Pass. Na continuação da baía da Main Beach para leste, antes de se chegar ao Farol, existe uma direita que me lembrou Snapper Rocks. Talvez o crowd… ou seria a corrente? Podia tambem ser o nível de surf que se fazia ver por lá. Rastovich bem mostrou como é que se surfa de twin-fin. Onda com 1 metro, metro e meio mas com força. The Pass é um point-Break de direitas em que o drop é feito em frente a uma rocha. Com swell de leste e vento de sudeste aguenta uma direita de 400 metros até à areia. Entre The Pass e o farol há Watego’s Beach. Esta é a praia da qual guardo melhores recordações. Além de termos ficado todos a dormir na areia depois de um “ozzy barbecue” e muita guitarrada, acordámos bem cedinho e passámos o dia todo a surfar. Estava pequeno mas as linhas eram perfeitas e o cenário era dos mais bonitos que tenho visto. De Watego’s Beach vê-se o famoso farol de Byron. A caminhada até ao farol faz-se por meio iguanas, aranhas, formigas de todas as cores, até se chegar ao ponto mais a leste do continente Australiano. É engraçado pensar que olhando para Leste, logo ali, a seguir àquela linha que separa o oceano do céu, estamos a Oeste de Portugal. Do farol é frequente verem-se baleias que regressam do seu periodo de desova do norte da Australia a apenas 100 metros da costa. Na Austrália é comum pensar-se que a única espécie que está a mais é o Homem.



De regresso à vila vai-se comer algo ao Twisted Sista Café, uma das coffeeshops mais roots de Byron. Fica na Lawson Street, outra das principais. Logo a seguir à rotunda, depois de nos termos deliciado ao som de mais um slide guitarrist que aparenta ter mais de 55 anos e mais tatuagens no corpo do que propriamente pele, fomos ao mediático Beach Hotel. São 5:00 da tarde e em Byron Bay as pessoas são felizes. Isso vê-se no sorriso com que nos saudam como se fossemos amigos de longa data: “Howzit goin’ mate!?” O Beach Hotel é um dos restaurantes mais conhecidos de Byron Bay. Tem esplanada com relva a fazer de bancos, com vista para a Main Beach, onde, essencialmente, se bebe cerveja (mais uma vez), se conversa e se desfruta do agradável cenário que se faz ver. Lá dentro há música ao vivo. Nesse dia era uma banda grande, tipo de 7 ou 8 em palco. A vocalista era Sul-africana e fazia o soul ser digno de seu nome. Estava tudo ao rubro ao ponto de vermos o Spike no palco a dançar “it’s rainning man”. A felicidade estava estampada no rosto das pessoas. O range de idades ia desde os 18 aos 60 e tudo estava na mesma sintonia: aos saltos ao som de funk e soul; só via olhos azuis a sorrir e pele bronzeada (a sorrir também!). Toda a gente fala com toda a gente; lembro-me de ter comentado com o Ximenez que não havia sítio nenhum no Mundo onde preferisse estar do que ali. A energia que estava no ar causava-me arrepios constantemente mesmo estando 30ºC. Foi sem dúvida um dos momentos mais felizes que registei na minha vida. Imaginem só onde: Byron Bay.

Todos estavamos radiantes com este fim de tarde. Bebemos mais umas cervejas e regressámos a Coolangatta com a certeza de que o resto da semana ia ser passado em Byron! Agora consigo compreender que todo e qualquer músico que, em tour, passe por Byron para um concerto, queira voltar a este “lugar de encontro”.

Byron Bay fora explorada pelo nosso grupo. Tinha sido um sucesso se pensarmos que todos guardámos momentos que nunca serão esquecidos. O brilho dos olhos estava lá e está aqui agora, que vos falo de Byron Bay, com saudade.

Cheers!

1 comment:

Filipa Costa Félix said...

Byron Bay é tudo isto e muito mais... Deixa-nos assim, encantados, e com a certeza de que um dia vamos voltar.

Tenho também a certeza de querer ler mais aqui no riddles, fico à espera.

Beijinhos,
Filipa.